As pessoas querem sentar em uma roda, falar de coisas,
contarem suas histórias, ter opiniões sobre vagos assuntos e desejam fortemente
serem aceitas, causando boas ou más impressões.
Eu até tento fazer parte deste universo que para mim soa
como superficial, um esforço para ser natural naquilo que não sou natural.
Os encontros marcados não são os meus favoritos, prefiro os
encontros que acontecem sem data, hora ou qualquer previsibilidade do que possa
acontecer.
E sempre que tento fazer esses encontros marcados, fico meio
sem energia com a sensação do que foi dito não foi sentido, dito por dito, fica
melhor não dito.
Sempre tenho uma espécie de culpa quando a conversa fica na superfície,
sou dos grandes mergulhos e de fôlegos maiores.
Não encontro no raso a calma e a serenidade que as
profundidades proporcionam.
Meus sentimentos são melhores no silêncio.
Nunca fui das grandes baladas, sempre preferi ir dormir em sábado
à noite do que passar a noite equilibrando em salto, tentado a melhor paquera.
Quando entrei para a faculdade o tempo que passava juntos
aos colegas, a proximidade e a busca pelo diploma, tornou-se o assunto
importante e por causa dos mesmos interesses conseguíamos estar sempre juntos, ora
para estudar, ora para tomar um vinho ou comer macarrão (já que era o prato
mais fácil e barato de fazer), as longas reuniões em fins de semanas, poucas
pessoas, comida, violão, intimidade, tornou-se fácil contar e recontar histórias,
passando por momentos únicos de riso e muita leveza.
Neste tempo entendi que preciso intimidade com as pessoas
para que eu goste de estar com elas e nenhum encontro passa a ser forçado ou
por obrigação de fazer parte de qualquer assunto que a sociedade as vezes
impõe.
Existem pessoas que em um único encontro, traz a alma
exposta e a conexão é imediata, dispensa qualquer formalidade de apresentação,
a energia boa faz o resto fluir.
Gosto das pessoas que eu não preciso buscar nenhuma
aprovação para ser aceita, gosto de gente que tem naturalidade e a aceitação
não é um proposito e sim o que acontece sem ao menos esperar.
Gosto dos assuntos que nascem sem serem planejados, gosto do
simples.
As relações estão cada dia mais distantes de serem reais, a
tecnologia nos afastou muito e vamos nos tornando seres cada vez mais
intocáveis, seres invisíveis.
Sou bicho que gosta de solidão, sou gente que gosta de gente
que sente a vida, tenho pressa da vida que passa depressa demais.
Romilda Santos
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