sexta-feira, 14 de julho de 2017

Trocando sapatos


Meus sapatos,
São somente sapatos
Apertado sem nenhum passo
Nessa estrada estreita que me espreita
Vou sem medo
Depois da esquina
Meu encontro é leve
Tenho pés descalços
Já não me servem estes pares.

Ditados iguais
Não cabem mais nos meus dias...
Vi um rosto que era invisível
Sem nome e sem crença
Que a Des “Graça” era sem graça
Minha garganta ficou seca
Caminho pela porta da rua
Numa fresta de vida eu sei
Sou dona dos meus passos.


Romilda Santos

domingo, 9 de julho de 2017

Falando de mim


As pessoas querem sentar em uma roda, falar de coisas, contarem suas histórias, ter opiniões sobre vagos assuntos e desejam fortemente serem aceitas, causando boas ou más impressões.
Eu até tento fazer parte deste universo que para mim soa como superficial, um esforço para ser natural naquilo que não sou natural.

Os encontros marcados não são os meus favoritos, prefiro os encontros que acontecem sem data, hora ou qualquer previsibilidade do que possa acontecer.
E sempre que tento fazer esses encontros marcados, fico meio sem energia com a sensação do que foi dito não foi sentido, dito por dito, fica melhor não dito.
Sempre tenho uma espécie de culpa quando a conversa fica na superfície, sou dos grandes mergulhos e de fôlegos maiores.
Não encontro no raso a calma e a serenidade que as profundidades proporcionam.
Meus sentimentos são melhores no silêncio.

Nunca fui das grandes baladas, sempre preferi ir dormir em sábado à noite do que passar a noite equilibrando em salto, tentado a melhor paquera.
Quando entrei para a faculdade o tempo que passava juntos aos colegas, a proximidade e a busca pelo diploma, tornou-se o assunto importante e por causa dos mesmos interesses conseguíamos estar sempre juntos, ora para estudar, ora para tomar um vinho ou comer macarrão (já que era o prato mais fácil e barato de fazer), as longas reuniões em fins de semanas, poucas pessoas, comida, violão, intimidade, tornou-se fácil contar e recontar histórias, passando por momentos únicos de riso e muita leveza.

Neste tempo entendi que preciso intimidade com as pessoas para que eu goste de estar com elas e nenhum encontro passa a ser forçado ou por obrigação de fazer parte de qualquer assunto que a sociedade as vezes impõe.
Existem pessoas que em um único encontro, traz a alma exposta e a conexão é imediata, dispensa qualquer formalidade de apresentação, a energia boa faz o resto fluir.

Gosto das pessoas que eu não preciso buscar nenhuma aprovação para ser aceita, gosto de gente que tem naturalidade e a aceitação não é um proposito e sim o que acontece sem ao menos esperar.
Gosto dos assuntos que nascem sem serem planejados, gosto do simples.

As relações estão cada dia mais distantes de serem reais, a tecnologia nos afastou muito e vamos nos tornando seres cada vez mais intocáveis, seres invisíveis.

Sou bicho que gosta de solidão, sou gente que gosta de gente que sente a vida, tenho pressa da vida que passa depressa demais.


Romilda Santos