terça-feira, 28 de março de 2017

Um tal Maturidade


Por falar de maturidade, talvez eu não seja o que você espera de mim, mas e dai nem sempre o que eu espero é o que consigo.

A maturidade nos dá esse presente incrível, que é sofrer menos e não ter tantas expectativas sobre fatos ou pessoas, a gente passa a viver a cada dia e se o que queremos não saem como o planejado, tudo bem também, um passo a frente, e que venha o próximo assunto.

Não existe mais tempo para lamentações e com angustias descabidas, não se perde a fome e nem o sono por qualquer bobeira,porque já aprendemos que certas coisas são como são e isso não é problema.

A vida fica mais leve, as duvidas existem sim,  mas a certeza do que a gente não quer já é um  ganho imenso.

A maturidade não faz uma vida menos intensa , a intensidade também pode ser sentida e vivida de forma mais plena e sem perdas.

Maturidade não é idade, é a sabedoria que a vida nos dá.
Conheci muita gente com idade avançada sem nenhuma maturidade, mas já conheci  jovens com a maturidade e a sabedoria de dar inveja.

Eu vi um menino com Cem anos, com a alegria da sua idade e com a sabedoria de uma vida toda.



Romilda Santos

domingo, 12 de março de 2017

Copo D' água

Tenho sede, levanto devagar, só preciso de um copo d’água.
Passando pela sala paro sem conseguir continuar, o plano era ir somente até a cozinha.
A boca agora estava ainda mais seca, vi na parede Frida Kalho presa no quadro amarelo, olhando fixo para mim, senti que ela repreendia meus passos que apesar de rápidos não faziam mais barulho e sequer sabiam aonde estavam pisando, senti um aperto no peito e fui para o lado sofá, sentei e fiquei a pensar no pé que ela não tinha, mas que ela transformou em asas, no meio de toda sua tragédia.
Absorta por pensamentos, levantei os olhos e vi mais adiante na mesa a minha Clarice Lispector, ela estava mais serena e tinha um sorriso e com sua máquina de escrever ia tecendo as palavras, escrevendo o roteiro de uma vida e no escuro mesmo eu li que cada qual conta sua história, que o medo faz parte e prender-se a ele é nunca conhecer o outro lado do horizonte, que não existem arrependimentos, talvez saudade do que possa deixar de existir, mas que sempre em cada amanhecer é de novo, uma nova história.
Percebi que nunca vamos ser iguais no dia seguinte, o que somos é somente hoje, amanhã no máximo teremos a memória de ontem e repetiremos nossos atos e o que aprendemos, fazendo com que pareça que ainda somos os mesmos; todo dia é novo para ser novo.
Já era hora de ir buscar meu copo com água, alguns metros e eu posso saciar essa sede, mexi no sofá ainda sobre o olha da Frida do quadro amarelo na minha sala, com o barulho que a máquina de escrever da Clarice fazia sem cessar.
Não consegui ir até o meio da sala sem ser interrompida novamente por outro olhar em outro quadro, esse olhar eu bem conhecia, mas já fazia tempo que não mais o via.
Li sua poesia e ela dizia: “ Eu sou Poeta”.
Falei em voz alta de novo repetindo para mim mesma: Eu sou poeta.
Fez silencio na minha sala, não tinha máquina de escrever e não tinha ninguém mais me olhando, era somente eu e o meu olhar, eu olhava para mim mesmo, ouvia meus pensamentos e sentimentos.
De forma clara e uma leveza que transcendia eu compreendi que o caminho não para por aqui. Amanhã quando eu acordar com as lembranças do que fui e sou, vou nascer de novo para os sonhos, entre o pôr do sol e a lua que brilha vou contar para meus ouvidos os segredos do que é viver. 

De uma explosão intensa e tanta coisa por fazer que a vida parece pequena, é melhor apressar o passo, não quero que Frida me diga outra vez, que não sei caminhar com meus próprios pés.
A minha máquina tem barulho por fazer.
Tomo meu copo de água gelada, para matar a sede bem depressa!
Romilda Santos