Mais sabor, por favor

Coisa estranha isso que a gente chama de sentimento: De dor, de amor, de ódio, de paz, de fazer o que o outro quer que a gente faça, de se importar com que pensam, isso que complica e descomplica a vida. 

Vou desenhando o meu destino e escolhendo a estrada, fico por onde me convém, nem tanto onde desejo.
Outro dia pensei que não quero mais pensar, só quero acordar amanhã sem lembrar do passado.

Tem dias que não quero dizer bom dia para pessoas que eu não acho interessante, alias acho um monte de gente desinteressante e eu às vezes fico também sem nenhuma graça. Foi a sociedade imposta que me fez ser solitária. Digo solidão dos sentimentos, ser como poucos pensam é ser meio louco, ou a escolha é pensar em silêncio.

Às vezes penso que podemos ter muitas vidas e muitos destinos na mesma vida, mas ai seria uma vida sem raízes, de poucos amigos ou de muitos amigos distantes, de muitas partidas e alguns regressos. Tem dias que gosto desse gosto de não pertencer a lugar nenhum, acho que isso tem um nome, chama liberdade.
Lembrei agora que sou mulher de família e de algumas raízes profundas, mas tem raízes que pularam para fora e vivem como asas ao redor do meu corpo, são essas asas que sonham e são esses sonhos que dizem que devo ser como sou, sem sentir solidão, sem o olhar normal daquela gente sem graça, onde o riso é fácil, a noite suave e dar bom dia sejam mesmo um bom dia para quem escolheu SER o que é. Acho que ando meio exausta dessas futilidades.

Cada um escolhe viver a vida como acredita ser a melhor forma, mas eu não me conformo com uma vida que não possa ser sentida ou vivida intensamente. Eu tenho preguiça de gente chata tentando ser legal, é igual assistir um show de comédia americana, que me desculpem os americanos, mas eles não são engraçados. Vida para mim ou tem doce ou tem amargo, não dá para ser como leite desnatado.

Não quero aplausos no final, só quero passar pelo que é leve, mas, por favor, que tenha sabor.

Romilda Santos

Recado

Estou falando nada
Sinto de tudo um pouco
Ouço o que me convém
Faço o que tenho vontade
Nem tudo é certo para os que olham de longe
Mas cabe no meu número e me faz dormir com sorriso no canto de boca.

Mandou recado para o outro lado
Que do lado de cá é diferente
Eu vejo o lado bom e fico com o que me faz bem
Do outro lado pouco me interessa o que não é da minha conta...
Recado é silêncio.

Romilda Santos